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LUIZ BUSATTO
( Espírito Santo )
Nasceu em Acioli, ES, em 18 de outubro de 1937.
Formado em Letras, com cursos de especialização em Portugal e na Itália, é doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia Espírito-santense de Letras, foi presidente do Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo (1993-1994).
Ensaísta em Montagem em Invenção de Orfeu (1978); Amor de asas & outros ensaios (1985) e O modernismo antropofágico no Espírito Santo (1992), dedicou-se ainda aos estudos de imigração italiana em seu estado de origem. Organizou a antologia Melhores poemas Gilberto Mendonça Teles (1993) e participou da antologia A poesia fluminense no século XX (1998, organização, introdução e notas de Assis Brasil). Obra poética: O bicho antropoide (1985) e Vida pequena (1992).
Biografia: https://grupoeditorialglobal.com.br
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA anos 80. / direção Edla van Steen; seleção e prefácio Ricardo Vieira Lima. São Paulo: Global, 2010. (Coleção Roteiro da Poesia BrasileiRa) ISBN 978-85-260-1155-7 246 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
VITÓRIA
Arrancai de vossa ilha esta pestes
públicas, esses germes do crime e
da miséria.
Tomás Morus, A Utopia.
cidade bustificada
cidade bestificada
em cada canto um busto
em cada canto uma besta
ilha, o que é ilha
que sempre brilha
de pretendentes?
ilha de sal e de sol
ilha de luxo e de lixo
ilha de mel e de fel
ilha delícia de ladrões e de polícia
ilha de ricos e de ratos
ilha de colunas e de calúnias
ilha pedestre de pederastas
ilha de poetas e de patetas
ilha bacana de dar banana
ilha de Vitória e derrotas
subúrbio carioca
sonhando com Nova Iorque
Vida pequena (1992)
O GRANDE AUSENTE
Houve a morte, cerrada a pálpebra da vida,
houve a cobra ferina e houve a história do pai
e houve um órfão pequeno e a sorte não querida
houve um silêncio mago e não se disse um ai.
Houve um cravo fincado em coração menino
não houve julgamento ou vozes de clemência
mas, e se houve, não sei, aquele vão destino
o chamem, com razão, de Deus ou Providência.
Foi lúgubre lembrança o enterro resoluto
e o hino que ficou naquela estrada torta
foi tempestade seca em meu olhar enxuto
em que o pai se afastou como esperança morta
deixando minha mãe no internato de luto
e eu na solidão limítrofe da porta.
Ibidem
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO
Uma parte de mim come frango
uma outra namora com o olhar
mas uma fome roaz e felina
dia e noite quer me estranGULLLAR
Uma parte de mim lê Homero
lê Vinícius e estuda Camões
só uma fome intestina convence
devorar Daniel e os leões
Uma parte de mim tira férias
se dedica a outra parte ao trabalho
só este frango que em mim não tem parte
e me corta, eu o corto e estraçalho
Uma parte de mim é feliz
outra parte de mim vai embora
mas a fome é que mata este mundo
onde quer que ela esteja. E agora:
Ibidem
*
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Página publicada em março de 2022
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